sábado, 25 de junho de 2011

"Greves em pauta" pelo Prof. Dr. Roberto Boaventura (UFMT).



Depois de longo tempo sem que as greves pudessem se manifestar, em função de sindicatos cooptados, o País começa a ver muitas manifestações de trabalhadores insatisfeitos.

Por aqui, destaco a greve dos professores da rede estadual. Recentemente, participei, a convite do Sintep-MT, de um debate sobre o modelo em que está estruturada a rede de ensino público: o ciclo de formação, substituindo o regime das séries.

De início, lamento a ausência – mesmo justificada – da assessora da Seduc ao evento. Por coincidência trata-se de uma colega do Instituto de Educação/UFMT. Há anos tento estabelecer diálogo acadêmico com meus pares especialistas em educação. Orquestradamente, eles permanecem no silêncio.

Registrei essa ausência – não substituída – porque foi um momento rico em que os professores da rede expuseram suas angústias profissionais. Uma se refere ao contingente de professores contratados precariamente. Há escolas em que efetivos sejam minoria. A outra se refere aos tais “ciclos”.

No que toca à efetividade dos docentes, eis uma preocupação. Conheço casos de professores, ex-discentes de Letras, que passaram em concursos da Seduc e pediram exoneração. Motivos: salários, más condições de trabalho e doentia ambiência escolar. Como os dois primeiros itens nos são conhecidos, enfatizo o terceiro ponto, salvando as exceções.

Começo exemplificando com o que ouvi de um professor de Inglês, aprovado em 2º lugar no penúltimo concurso. Em que pese suas qualidades, inclusive a de ser excelente orador, alunos de 14 e 15 anos não lhe permitiram sequer desejar um “bom dia”, nem em português. Além de perceber estudantes drogados, ouviu a seguinte sugestão: “seja bem tranquilo, professor, caso não queira pra sua cabeça”. Resultado: exonerou-se no dia seguinte para preservar sua vida. Ouvir seu relato é desolador. Aqueles alunos já são frutos dos ciclos de “formação humana”. O fracasso dessas experiências é visível a olho nu.

Nesse sentido, tudo isso coaduna com relatos de acadêmicos meus que estão visitando escolas e entrevistando diretores, supervisores, orientadores, professores e alunos. Resguardando exceções, os relatos estarrecem. Em um deles foi exposto que a escola estadual mais próxima geograficamente à UFMT desativou o ensino do noturno por conta do vandalismo. Se for, posso prever o futuro: outras unidades farão o mesmo. Mais: em breve, o turno vespertino também será desativado; pouco depois, será a vez do turno da alvorada. Tudo é questão de poucas décadas. Quem (sobre)viver, verá o desmonte do sistema; ou melhor, do País!

Não tenho dúvidas da complexidade e abrangência político-sociopedagógicas que envolvem tudo isso. Todavia, a flexibilização do rigor na educação é um dos motivos centrais de uma sociedade irresponsavelmente permissiva e corrupta. Nesse sentido, o espanto de um dos meus acadêmicos africanos conveniados com a UFMT chamou atenção. Ele estava assustado com o que viu numa escola: completa falta de respeito dos estudantes com os professores. Perguntei-lhe se em seu país – Guiné-Bissau – era diferente. “Sim. Lá, um aluno não desrespeita um professor. Se tentar, ele é punido pela escola e pelos pais”, respondeu-me.

Pois por aqui é diferente. Essa diferença, que é uma aberração, nos “ranqueia” como uma das piores educações do planeta. Logo, salvar as novas gerações, por meio de rigorosa educação, deve ser nosso maior desafio.

No próximo artigo, falarei da “enturmação dos ciclos”, adotado pela Seduc. Sabem o que isso? Preparem-se.


*ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ - dr. em Ciência da Comunicação/USP e prof. da UFMT

9 comentários:

  1. por mais de 480 anos tivemos o rigor das séries, e o que produzimos em termos de brasil? Milhoes de jovens reprovando em vestibulares pelo pais a fora, alunos decorrebas, sem senso critico, milhoes de pessoas se evadindo das escolas. Militarismo nunca mais. Não funciona. O problema não é ciclo ou serie. é o modo de trabalhar.
    educação é compromisso social: a educaçao se desenvolve nas salas de aula, não com alunos em casa assistindo tv ou na frente de orkut. Nas escolas vemos muita politicagem contra o governo. Se não está bom, porcure coisa melhor. Ninguem é obrigado a fazer o que nao quer.
    abraços

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  2. Conversa furada...O modo de trabalhar está estritamente condicionado pelas condições do local de trabalho e da sobrevivência do próprio trabalhador. Primeiro o trabalhador sobrevive, depois exerce seu ofício - já disse isso pelo menos 10 vezes por aqui. Essa é uma condição essencial da existência humana.

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  3. Boa tarde, na verdade voce nunca aceita as ideias dos outros. E olha que deve ser uma pessoa que levanta a bandeira da diferença. Então meu caro, pense em suas condutas: pelas suas ações de não aceitar o que os outros pensam e acreditam voce mostra que não segue a bandeira que defende. Tá cheio disso por ai.

    pessoas que nao seguem a bandeira que acreditam.
    abraços, encerro a participação nesse espaço, por ter minhas ideias rejeitadas pelos senhores da "razão". O tempo dirá quem esta certo.

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  4. O anônimo acima afirma: " Milhoes de jovens reprovando em vestibulares pelo país a fora, alunos decorrebas, sem senso crítico, milhoes de pessoas se evadindo das escolas".
    O "rigor das séries" serviu também para nós, frutos desse sistema cruel, percebermos que discursos como o dele servem apenas para fortalecer a exclusão social transvestida de inclusão social, e não há professor-herói que consiga tirá-los da superficialidade da tv quando as próprias políticas pedagógicas os empurram para isso...

    Só uma pergunta: o anônimo que acredita na boa intenção do governo, tão perseguido pelas escolas, já entregou o filho dele nas mãos do ciclo de formação humana?
    Se sim, boa sorte...!!!

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  5. boa tarde, o que vc me diz da seguinte situação:
    claro que essa situaçõ é excessão: prof chega na sala, senta, faz chamada, pede para algum aluno passar a materia no quadro, todos copiam, pedem para os alunos fazerem os exercicios da pag tal a pag tal, dá uma olhda em alguns. o sinal bate e ele vai embora. dar aulas assim é muito facil; qual é a complexidade da situação acima? claro que temos milhares de prof que são competentes, mas fatos como os acima tb são reais.. não sou defensor do governo nem do sintep, vamos colocar a discussão no plano de coisas reais..... que acontece no chaõ da escola.
    boa tarde e feliz semana...

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  6. Não entendi o "porque" da revolta do anônimo de cima. Ora, pensei que isso aqui fosse um embate de idéias. Cada um defende a sua posição, alguns de forma mais veemente, outros de forma mais serena. Não há nada de errado nisso.

    Sobre o exemplo citado acima, isso não deve ser entendido como um problema da categoria, mas como problema aleatório e administrativo da própria escola, ou até mesmo individual do profissional - por frustração pelas condições precárias de trabalho ou malandragem mesmo (veja, não descarto essas situações). Mas independente dessas questões, qualquer tentativa de desqualificar a greve com estes argumentos não se sustenta racionalmente, se é que esta foi a intenção do anônimo...

    No mais é isso. Este espaço tem a parte dos comentários abertos (poderiam ser moderados ou selecionados), justamente pra discussão acontecer.

    Abraços,

    Bruno

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  7. malandragem? o que vc quis dizer com isso?

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  8. REFLEXÃO

    “Trair” a classe é um modo deplorável, afinal estamos lutando por melhores condições de trabalho.
    Trair a si mesmo é pior do que trair a classe, pois em caso de perca de profissão ou coisa semelhante à classe não te dá o seu meio de sobreviver de volta.
    Precisamos sim refletir sobre bem estar alheiro, mas nunca devemos esquecer que o Altruísmo ou solidariedade não esta acima do nosso egoísmo (Egoísmo (ego + ísmo) é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona.
    Existe uma fantasia entre as pessoas que o egoísmo é ruim, será?

    Uma coisa é dizer que é solidária ou solidário outra bem diferente é agir contrariamente a isso.

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  9. boa tarde, gostei desse comentario acima, ja que o mesmo reflete uma verdade.

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